Lições de corpo, sobre as fotografias de Paulo César
valter hugo mãe
Por norma, procuramos numa fotografia parecer quem gostaríamos e não exactamente quem somos. Esperamos sempre que não se vejam os pequenos ou grandes defeitos, tantas vezes acentuados apenas pelos nossos exclusivos incómodos com o corpo que carregamos. É verdade que só muito de vez em quando, e sobretudo por acaso, nos descobrimos numa imagem que, por benesse da luz ou do ângulo, nos mostra de modo excepcional, como se fossemos colhidos por uma máquina que sabe ler almas exactamente na altura em que a nossa alma se apazigua e espraia.
A arte de fotografar a figura humana de Paulo César tem de acontecer por essa espécie de urgência em procurar e preservar o momento perfeito em que alguém encontrou o seu melhor, quase o seu impossível, num resultado de sedução profundo que ao mesmo tempo alia a beleza a uma espiritualidade característica da nudez. É fácil de entender que está em causa o deslumbre pela energia apelativa do corpo, e desde logo na sua componente erótica, que faz com que seja irresistível a contemplação em clara provocação do desejo.
Os nus de Paulo César procuram a delicada naturalidade daquilo que não se pode garantir, ou seja, um momento de sonho. As suas imagens tendem para essa atmosfera algo onírica que parece colocar o indivíduo num pedestal. A figura é conseguida pelo seu lado endeusado, ascendendo ao escultural, ainda que retrate tantos estados de espírito por que nós, humanos efémeros, passamos.
São lições de corpo. Os homens de Paulo César, vistos nas suas fotografias super cuidadas, são lições de corpo. Param diante dos nossos olhos como instigação a essa fantasia que sempre é a perfeição.